Centenas de garças brancas escolheram a sede da Cabo Verde Telecom como dormitório, um fenómeno que está a provocar um misto de admiração e inquietude nos funcionários da empresa, em S. Vicente. Assim que o sol começa a descambar por trás do Monte Cara, os bandos surgem no céu, “vindos do nada”, e aterram numa grande tamareira a chamada “antena ecológica” de telecomunicações, existente no pátio do edifício.
Neste poste com dezenas de metros de altura, as aves juntam-se nas “folhas”, cada uma à procura do melhor sítio para passar a noite. Mais a baixo, um número maior espalha-se pela copa de uma árvore, que ganha uma outra vida e fica literalmente pintada de branco. Entre as seis e as sete da noite, o número de garças vai aumentando gradualmente nos céus, num espectáculo já aguardado pelos trabalhadores da empresa e por alguns mindelenses que já deram conta desse facto.
“Há alguns dias atrás, deviam ser uma quinhentas garças. Ficam a esvoaçar de um lado para o outro ou brigando por uma rama de árvore”, conta José Luís Pereira, que admite estar perante uma bela manifestação da natureza, mas que ainda não sabe dizer se esse fenómeno é bom ou mau para a empresa. Segundo este responsável pela Logística da CVT na cidade do Mindelo, esses animais, além de provocarem um forte ruído com os seus “rasnares”, deixam o pátio e as viaturas completamente sujas.
A visita das garças, segundo Tomás Aquino, pode trazer alguns constrangimentos à CVTelecom, mas este sindicalista pede muita cautela às pessoas, para não tomarem decisões que possam colocar as vidas dessas aves em risco. “Estamos perante uma espécie nómada, migratória, que daqui a nada vai procurar outro poiso. Por isso devemos ter paciência”, defende Aquino, que aconselha a empresa a consultar um especialista na matéria para saber o que anda a atrair a atenção das garças para o prédio da CVT. “Acho que, em vez de tentarmos assusta-las, devemos é tentar compreende-las e respeita-las”, acrescenta. É do conhecimento deste jornal que a direcção da CVT pretende solicitar apoio especializado para saber como agir.
Matá-las, na opinião de José Luís Pereira, está fora de questão. Até porque, como confirmou um responsável da empresa, as aves não estão a perturbar o funcionamento da “antena ecológica”. No mínimo estão a provar que, afinal, a antena é mesmo ecológica.
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