Os habitantes da localidade de Ribeira dos Bodes, interior de Porto Novo, dizem que passam por “sérias dificuldades” por causa do desemprego que é alarmante na comunidade. Muitas das famílias são numerosas e “assumem que há momentos que não levam a panela ao lume por falta de comida”.

Na sequência de uma missiva endereçada a um comerciante na cidade do Porto Novo, na qual uma mulher dessa comunidade descrevia que a sua família era constituída por 15 pessoas e precisava de “comida para os seus filhos que estão em péssimas condições alimentares, pois, vão para a escola sem tomar o pequeno-almoço e às vezes ficam sem almoçar ou jantar”, o asemanaonline alertou a Cáritas Paroquial que se deslocou ao local para se inteirar da situação.
No terreno a Cáritas constatou que há pelo menos 13 famílias a viver a mesma situação. Queixam-se de desemprego generalizado e alegam que nem o “djunta mon” que é característico das comunidades rurais lhes serve, porque ninguém tem onde recorrer para arranjar comida.
Há uma mercearia na comunidade, mas o proprietário não vende a crédito. Alega que não pode disponibilizar os seus produtos a clientes sem dinheiro, e ter de aguardar vários meses para ser pago. Prefere jogar no seguro e vender fósforos, velas, meio quilograma de açúcar ou arroz mas com dinheiro à vista. “Há dias que nem sequer vendo 500 escudos”, conta a balconista.
Aliás, a mesma missiva a que tivemos acesso, cuja identidade da remetente e do destinatário preservamos, descreve: “Devo muito arroz aos vizinhos, tenho dívidas anteriores nas lojas e já não tenho mais onde pedir. O meu marido que é a única pessoa que trabalha, sofre de dores nas costas”.
Coincidência ou não, chegamos nessa casa e encontramos a mulher a preparar “camoca” para o jantar. “Hoje tive milho para fazer camoca, mas há dias que nem isso tenho”, assevera.
As famílias estão satisfeitas com uma frente de trabalho que a Câmara do Porto Novo abriu na comunidade em sistema de rotatividade para os chefes de família, mas alegam que a demora no pagamento lhes faz passar por vários constrangimentos.
“A Câmara Municipal abriu uma frente de trabalho com duração de três meses. Cada mês trabalham 25 pessoas em sistema de rotatividade, mas até agora o primeiro grupo não recebeu os salários. Ainda assim, estamos satisfeitos porque sabemos que esse dinheiro está para chegar”, contam advertindo que a dúvida que persiste agora, é não saber o que fazer depois que a frente encerrar.
Agricultura também não ajuda.
Com apenas três horas diárias de energia através de uma micro-central que abastece a comunidade, os agricultores recorrem a outro gerador destinado à rega. “Compramos combustível e numa hora extraímos cerca de 19 toneladas de água. Nem sequer é custoso porque pagamos cerca de 900 escudos por esse serviço, mas a maioria não tem esse dinheiro". Mesmo os que têm essa possibilidade, agora deparam-se com mau tempo e pragas a devastar os cultivos”, lamentam.
O líder comunitário, Henrique da Luz, diz que a alternativa para conseguir extrair água a um preço irrisório, como acontece agora na comunidade de Casa de Meio, está centrada num projecto para o qual a Associação para a Defesa do Ambiente e Desenvolvimento ainda busca de financiamento. Caso o resultado seja positivo tanto Ribeira dos Bodes como Ribeira Fria vão recorrer às energias renováveis para extrair água dos furos locais. Diante dessa dura realidade, a Cáritas Paroquial prontificou-se a disponibilizar cinco mil escudos em géneros alimentícios para as 13 famílias que estão em situação mas crítica, os agricultores também terão apoio para adquirir o combustível.
João Ramos diz que essa situação não acontece apenas nessa comunidade mas sim na maioria das localidades do interior do Porto Novo, com maior relevância na zona Norte, uma das mais afectadas pela seca.
Nessa comunidade a Cáritas dá emprego durante três meses a algumas famílias, para construírem currais, pocilgas e recuperarem um caminho vicinal.
Há muito tempo que os deputados eleitos por Santo Antão vêm alertando para essa situação e os recentes números sobre o desemprego vieram confirmar que a situação é “gritante”.
PN
FONTE: ASEMANA - http://www.asemana.publ.cv
20 Maio 2013
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