Até finais de Julho, a “Islands Seafood”– uma empresa cabo-verdiana de capitais maioritariamente norueguesa – deverá solicitar licença para construir um cais de pesca moderno que irá suportar a sua actividade comercial de tratamento, congelamento e exportação de pescado, em São Vicente. Esse passo estava dependente da aprovação do estudo de impacto ambiental, o que, segundo Paulo Abu-Raya, consultor e gestor do projecto, aconteceu na passada sexta-feira. A sociedade de capital norueguês está apenas a aguardar a finalização dos projectos de engenharia e arquitectura, que estão a ser elaborados na Noruega, para avançar com o empreendimento.

O plano da Islands Seafood é arrancar com a obra no último trimestre deste ano. O prazo para a construção do cais é de dezoito meses, mas a empresa acredita que vai terminar a infra-estrutura em menos tempo. “Será um cais moderno, que permite bombear o pescado directamente do barco para a fábrica, através de um sistema de vácuo. Será possível descarregarmos cinquenta toneladas de peixe em apenas uma hora. Actualmente, os pescadores gastam quase meio-dia a descarregar entre 20 e 30 toneladas de cavala. Este dado dá-nos uma ideia do nível do investimento da Islands Seafood”, compara Abu-Raya. O futuro cais ficará na zona de Cova d’Inglesa, a 25 metros de distância do actual complexo de pesca, e ocupará uma área total de 20 mil metros quadrados, 11 mil dos quais em terra.
Em termos globais, a Islands Seafood vai investir 72 milhões de euros em infra-estruturas e equipamentos, com financiamento do governo norueguês. Em 2016, quando estiver a laborar em velocidade cruzeiro este moderno projecto de pesca poderá totalizar 400 trabalhadores e tornar-se numa das empresas que mais gente emprega na cidade do Mindelo. Mas não só: a “Seafood” pretende ser mais uma peça do puzzle “Cluster do Mar” pois, segundo Abu-Raya, a sua actividade vai integrar-se em vários sectores da economia marítima mindelense. “Uma das vantagens evidentes é a quantidade de pessoas empregadas. Outro aspecto importante é que os armadores de pesca passam a dispor de mais uma unidade industrial onde podem vender, com segurança, o seu pescado”, exemplifica o cabo-verdiano Paulo Abu-Raya.
Numa primeira fase, a “Seafood” irá iniciar as operações com 135 empregados. Em 2016, terá contratado mais 265 pessoas. O salário mínimo que a empresa pretende aplicar, segundo a deputada nacional eleita por São Vicente Maria da Luz, “Dallas” Monteiro, irá rondar os 22 mil escudos, ou seja, muito acima do praticado pela grande maioria das empresas nacionais. “Além desse vencimento, que é um grande estímulo, a empresa irá oferecer 10 por cento do seu lucro anual a projectos sociais da ilha de S. Vicente”, acrescenta a parlamentar da bancada do PAICV.
Logo em 2015, o primeiro ano de labor, a facturação da Islands Seafood poderá atingir os 36 milhões de euros, resultantes de exportações para os mercados europeu e norte-americano. “Mas vamos disponibilizar uma percentagem do nosso pescado ao mercado nacional”, informa Vicente Almeida, único acionista cabo-verdiano na sociedade, que é dominada por empresários noruegueses. Mas, para ser rentável, a fábrica da “Seafood” terá de funcionar com os 400 trabalhadores. Este pico será alcançado em 2016, ano em que a “Island Seafood” prevê movimentar 220 toneladas de peixe por dia, entre atum, cavala, “bedja”, linguado, palombeta, bidião... Quinzenalmente, a empresa enviará carregamentos para o exterior através da linha marítima da companhia Maersk, que tem estado a fazer escala duas vezes por mês no Porto Grande, ligando os continentes europeu e africano.
Aliás, os investidores desse reino do Norte da Europa dominam a estrutura accionária da nova empresa. Uma boa nova, já que a Noruega é o país mais desenvolvido do mundo e tem uma larga experiência no sector das pescas. Segundo Geir Eriksen, presidente da sociedade “Islands Seafood”, decidiu ancorar este seu investimento em Cabo Verde com um grande objectivo em mente, exportar para dois grandes mercados: Estados Unidos e União Europeia. “Os melhores bancos de pesca estão nesta zona da costa africana. Eu já estava a trabalhar na indústria de pesca no Senegal, mas enfrentámos muitos problemas de processamento e escoamento. Assim, decidimos que Cabo Verde seria um ponto estratégico, onde podemos processar uma grande quantidade de pescado e colocá-lo no mundo, sem muitos problemas”, explica o empresário norueguês.
Para apoiar a fábrica de manuseamento, congelamento e empacotamento de pescado, a Islands Seafood já adquiriu dois barcos que antes pertenciam à empresa cabo-verdiana Cabo Verde Gold Fish. Esta companhia, segundo o investidor Vicente Almeida, fechou as portas após enfrentar dificuldades com a exportação do seu produto e agora associou-se ao projecto Islands Seafood, ciente de que esta nova aposta tem tudo para dar certo.
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